terça-feira, 3 de agosto de 2010

Os outros e as mudanças.

...Outro dia reencontrei meus amigos, do colégio. Papo vai, papo vem, começamos a nos lembrar de casos sobre o nosso colega C. Nossa, a C. era terrível. Ela tratava todo mundo bem, mais quando agente menos esperava, lá estava ela fazendo coisas de filme, tipo falar para o cara mais feio da escola, que você era a fim dele. ela fazia tudo com a maior cara inocente tipo "Ops! Eu disse isso? Que cabeça minha! ", deixando todos confusos. Enfim, começamos a nos perguntar por onde anda a C. e quando vimos, estava fazendo comentários fofos, como "ela deve estar trabalhando como serial killer ". Mas, a determinada altura da noite, percebemos uma coisa. Esses casos terríveis sobre a C. não aconteceram semana passada. Aconteceram há uns 15 anos... Ai, como me senti velha agora! Mas ok, sem crises de meia idade. a questão é: Quem disse que a C. não mudou de lá pra cá? Você já deve ter percebido que tem uma incrível capacidade de mudar. De ideia, de estilo, de roupa, de opinião, de tudo. Todas as pessoas mudam o tempo todo - a não ser que tenham uma vida bem entediante! Nossas experiências, leituras e conversas vão alterando nosso jeito de ser, de ver, de pensar. Mas se por um lado, reconhecemos nossas mudanças e até nos orgulhamos de algumas delas, por outro percebo que temos uma tendência a achar que os outros continuam os mesmos. Puxa, em 15 anos, é claro que a C. pode ter mudado pelo jeito de ser. Ela pode ter feito terapia, ela pode até ter se mudado para o Tibete, onde passa os dias meditando: faz tanto tempo que não tenho notícias dela! É no mínimo pretensioso pensar que ela é estática, enquanto eu e meu amigo estamos aqui super dinâmicos, tentando nos aperfeiçoar e tal - não sei se você, mais eu tenho pavor de viver sem me aperfeiçoar. Verdade que eu considero o passar dos meus dias, não uma linha contínua para o alto e avante, mais uma curva cheia de avanços e retrocessos - mas de qualquer forma, luto pra ser uma velhinha sábia! Voltando: acho que agente também tem a péssima mania de achar que desenvolvemos talentos ao longo do tempo enquanto os outros não melhoram. É meio injusto achar que aquela garota que hoje é atriz deve atuar mal, porque atuava mal na escola, ou que o fulano, que sei lá, não sabia trabalhar em equipe da última vez que o vimos continua sem saber. Não é só a gente aprende, vai. Fico pensando: se achamos que as pessoas não mudam, como dar uma nova chance a elas? Se eu encontrar a C. na rua dia desses, preciso mesmo olhar para ela pensando na psicopata que ela foi quando tinha 15 anos? Claro, ela pode, digamos, ter aprendido a desenhar, mais não tem mudado no quesito confiabilidade e, sei lá. tentar roubar meu marido. Mais fico achando que é muito melhor dar uma chance de ver quem é a C. de agora e parar, inclusive de olhar pra ela pensando em palavras como "psicopata". As pessoas nos surpreendem o tempo todo, e acho maravilhoso nos abrirmos para mudanças delas. Claro. não preciso deixar meu marido perto dela enquanto faço essa experiência, mas você entendeu.

(Liliane prata, 106 Capricho Ed. 1102)

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